Transe mediúnico
Transe
mediúnico
As
manifestações do psiquismo humano, boas ou más, e as ocorrências mediúnicas fazem
ressonância na mente do ser encarnado ou desencarnado, pois que na mente está a
base de todos os fenômenos mediúnicos.
De
alguma maneira, somos médiuns em nosso campo mental, associando-nos às energias
edificantes, se o pensamento flui na direção da vida superior, ou às forças
perturbadoras e deprimentes, se escravizados às sombras da vida primitivista ou
torturada.
Cada ser
humano, com os sentimentos que lhe caracterizam a vida íntima, emite raios
específicos e vive na onda espiritual com que se identifica. Conforme os raios,
sintonizamo-nos com a onda de pensamentos a que as nossas almas se afeiçoam. Para
uma boa prática mediúnica, precisamos saber como funciona a mente e qual o seu
potencial.
Um
Espírito comunica-se pelas relações fluídicas existentes entre ele e o médium,
que nem sempre se estabelecem instantaneamente. À medida que o médium
desenvolve a sua faculdade, adquire a aptidão necessária para colocar-se em
comunicação com o Espírito que se apresente. Porém, pode acontecer de o médium
desejar comunicar-se com quem, embora presente, não esteja em condições
propícias para isso ou suceder que ele não tenha possibilidade e tampouco
permissão para atender ao pedido que lhe é feito.
Transe
A
palavra transe é genericamente entendida como qualquer alteração do estado da
consciência, podendo ser considerado ainda um estado especial, entre a vigília
e o sono, que abre as portas da subconsciência.
É
também considerado um estado de baixa tensão psíquica, com estreitamento do
campo de consciência e dissociação. Nessa situação, é possível ocorrer um
mergulho no inconsciente, seja por condições intrínsecas ao indivíduo, ou por
ação externa produzida, por exemplo, por um Espírito.
Existem
fatos psíquicos que ocorrem automaticamente, o Espírito participa deles de modo
passivo (baixa tensão psíquica). Os instintos, os hábitos e as próprias emoções
são dessa ordem. Outros exigem participação ativa (alta tensão), tais as
operações intelectuais, a vontade e a atividade criadora.
O
decréscimo da tensão mental, a passividade, é o caminho do transe, o que
equivale a dizer dos domínios do inconsciente. O homem de intelecto funciona em
regime de alta tensão psíquica, o inspirado busca a passividade que lhe amplia
a percepção anímica.
Entendemos
por dissociação ou automatismo o fato de uma área mais ou menos extensa do
cérebro agir desvinculada da consciência normal, estado de vigília.
O
transe, mediúnico ou não, pode apresentar dois estados extremos: superficial ou
consciente; e profundo, inconsciente ou sonambúlico. Entre estes estados, há
inúmeras gradações que caracterizam o transe parcial ou semiconsciente.
A
duração do transe varia conforme as circunstâncias e as condições físicas e
psíquicas da pessoa: pode ser fugaz e imperceptível para os circunstantes, um
súbito mergulho no inconsciente; ou prolongado com visíveis alterações do
estado psíquico.
O
estudo do transe deve considerar a ação anímica do médium, de ocorrência usual,
mesmo nos transes sonambúlicos ou profundos. Os bons médiuns são considerados
bons intérpretes, condição que lhes permitem ser procurados com maior
frequência pelos Espíritos esclarecidos, os quais escolhem o intérprete que
mais simpatize com eles e exprima com mais exatidão os seus pensamentos.
Os
transes podem ser classificados em: patológico; espontâneo ou natural; e provocado
ou induzido.
Transe
patológico
O
fator mórbido atua como desencadeante. Traumatismos crânios-encefálicos, estado
de coma, delírio febril e período pré-agônico são algumas condições em que surge
eventualmente o transe em uma pessoa.
Transes
espontâneos ou naturais
Ocorrem
em pessoas predispostas naturalmente a essa ocorrência, tais como: médiuns e
sonâmbulos.
Transes
provocados ou induzidos
Podem
decorrer: da ação magnética, hipnose e sugestibilidade; dos efeitos de
substâncias químicas, medicamentos, drogas lícitas e ilícitas. Nessas condições,
ocorre bloqueio cortical, mais ou menos intenso da atividade cerebral, capaz de
conduzir a pessoa ao estado de transe, situado entre a vigília e o sono.
Transe
mediúnico
Não há
supressão total da vigilância no transe mediúnico, que pode estar bastante
reduzida, tal como no estado de sonambulismo, pois o perispírito permanece
ligado ao corpo. Durante a manifestação mediúnica de um Espírito, pode ocorrer
aumento ou redução do metabolismo corporal, condição que requisita assistência
de benfeitores espirituais, os quais utilizam energias irradiantes
magnético-espirituais, próprias ou dos encarnados, para preservar o equilíbrio
do veículo somático do médium.
O
transe mediúnico revela-se pela presença de uma entidade espiritual buscando o
medianeiro, a fim de transmitir a sua mensagem. De um lado o Espírito, do outro
o médium, o receptor das ideias do Espírito atuante.
O
transe mediúnico permite ao corpo fluídico (perispírito) exteriorizar-se,
desprender-se do corpo físico, e à alma tornar a viver por um instante sua vida
livre e independente.
Graus
do transe mediúnico
O
transe mediúnico pode ser superficial ou profundo e, entre eles, há uma
gradação que são os transes parciais.
Transe
superficial
Neste
transe, não há amnésia, o médium se recorda de todos os acontecimentos
ocorridos durante a recepção e a transmissão da mensagem. O médium simplesmente
recebe o pensamento do Espírito comunicante e o transmite.
No
médium principiante, pode gerar dúvida o fato de ter permanecido em transe. Com
o passar do tempo, com a prática mediúnica e a educação da faculdade psíquica,
aprende a distinguir o pensamento próprio do comunicante desencarnado.
Nos
médiuns intuitivos, o transe é sempre superficial.
Transe
profundo
O
transe profundo ou sonambulismo é caracterizado pela extrema sugestibilidade e
amnésia lacunar, o esquecimento de acontecimentos vividos ou presenciados
durante o transe.
Durante
o transe profundo, ocorre uma espécie de sono magnético que permite ao corpo
fluídico exteriorizar-se, desprender-se do corpo, e à alma tornar a viver por
um instante sua vida livre e independente. A separação nunca é completa. Um
laço invisível continua a prender a alma ao seu invólucro terrestre, semelhante
ao fio telefônico que assegura a transmissão entre dois pontos. Esse laço
fluídico permite à alma desprendida transmitir suas impressões pelos órgãos do
corpo adormecido.
O
médium fala, move-se e escreve automaticamente. Desses atos, ao despertar, não
se lembrança de nada. Nessa situação, a mensagem mediúnica e outros
acontecimentos raramente chegam à consciência do médium e, se alguma coisa
escapa, as lembranças são quase sempre fragmentárias. É importante ressaltar
que, mesmo no estado de transe muito profundo, o médium não perde totalmente a
ligação com a consciência.
Nos
transes profundos, o médium entra em estado de maior passividade, sobretudo o
sonambúlico psicofônico, que se expressa sem ter consciência do que diz e sobre
coisas completamente estranhas às suas ideias, ao seu conhecimento e fora do
alcance de sua inteligência. Embora se ache perfeitamente acordado e em estado
normal de transe, raramente se lembra do que disse.
Transes
parciais
Representam
gradações no estado de rebaixamento psíquico. Os médiuns recordam alguns
acontecimentos ou trechos da mensagem transmitida pelo comunicante espiritual.
É comum o médium recordar-se do conteúdo da mensagem mediúnica imediatamente
após a transmissão, esquecendo-se dela com o passar do tempo.
Etapas
do transe mediúnico
As
etapas do transe mediúnico podem ser: condições que propiciam a indução ao
transe; e o transe propriamente dito.
Nos
momentos iniciais do intercâmbio mediúnico, o médium é envolvido pelos fluidos
do Espírito comunicante. Ao captar as emanações energéticas do Espírito, o
médium percebe, na forma de sensações, boas ou ruins, a situação espiritual do
desencarnado. Esses fluidos magnéticos produzem efeito entorpecedor, agindo
diretamente no perispírito do médium e, de imediato, no seu córtex cerebral e
nos lobos neurológicos frontais.
Nessas
condições, o medianeiro se distancia do ambiente onde se encontra devido ao
rebaixamento psíquico próprio do estado de transe, que será tanto maior quanto
mais o perispírito se desligar do corpo físico. Nesse momento, o médium vive em
dois planos de vida que, conforme o grau de indução ao transe, pode se afastar
do plano físico, ou não.
São
essas ações fluídica, perispiritual e mental que afastam o medianeiro do estado
de vigília, sobretudo se há fatores ambientais indutores do transe, quais
sejam: ambiente físico – local da reunião tranquilo, silencioso, limpo,
agradável, luminosidade indireta, música suave (não é obrigatória), conversação
digna, entre outras; emanações fluídicas – as energias irradiantes da prece,
das mentalizações (irradiações mentais) associadas às energias oriundas do
plano espiritual, produzidas pelos benfeitores espirituais, saturam o ambiente
e afetam diretamente a mente do médium, induzindo-o ao transe; e concentração
mental – as duas condições anteriores permitem que o médium entre no estado de
concentração mental, caracterizado pelo rebaixamento da tensão psíquica (o
médium fica como que desligado do ambiente físico onde se encontra).
Existem
outras formas de indução ao transe mediúnico não utilizadas na Casa Espírita,
como, por exemplo, as dos cultos afro-brasileiros.
Transe
propriamente dito
Sintonia
mental: o médium capta ideias e sentimentos do Espírito
comunicante, que lhe assomam à mente e ao mundo íntimo, jorradas em fluxo
contínuo. Capta, igualmente, intenções, emoções, estado psicológico e outras
características da personalidade da entidade. O médium pode ter noção do que
acontece ao seu redor, no grupo mediúnico, se o seu transe é superficial ou
parcial, ainda que se mantenha ligado à presença e à comunicação do Espírito.
Acesso
à memória do médium: às vezes, para que o Espírito possa
transmitir com mais clareza suas ideias, acessa a memória do médium. Tal acesso
é realizado em duas situações distintas: pelo Espírito comunicante, com
anuência do médium: é o que ocorre nas manifestações de Espíritos esclarecidos;
pelo Espírito necessitado de auxílio, em trabalho conjunto com as entidades
esclarecidas e com a permissão do medianeiro. Para que os arquivos espirituais
do médium sejam abertos e lidos, é necessário que ele esteja em estado de maior
dissociação psíquica, ou seja, de transe profundo;
Manifestação
mediúnica da entidade comunicante: é o momento em que o médium
concorda efetivamente com a comunicação do Espírito, transmitindo aos
circunstantes suas ideias e seus sentimentos. Durante o intercâmbio mediúnico,
os perispíritos do médium e do comunicante permanecem unidos a fim de facilitar
a ligação mental entre ambos. Essa união é mais facilmente percebida nas
manifestações psicofônicas a ponto de, erroneamente, supor-se que o comunicante
substitui o Espírito do médium.
A
ligação do Espírito manifestante com o médium se dá por uma espécie de
acoplamento dos respectivos perispíritos na faixa da aura, onde, em parte, se
interpenetram. Daí a impropriedade do termo incorporação.
O
Espírito desencarnado não entra, com o seu perispírito, no corpo do médium. O
que ocorre é a ligação entre ambos pelos terminais do perispírito de cada um,
como o plug de eletricidade se liga numa tomada. É por esse acoplamento
que o médium cede espaço para que o manifestante tenha acesso aos seus comandos
mentais (cerebrais) e, dessa forma, possa movimentar-lhe os instrumentos
necessários à fala, ao gesto, à expressão de suas emoções e ideias.
Bibliografia:
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Livro dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
KARDEC,
Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Livro dos Médiuns. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira,
2019.
MOURA, Marta Antunes de
Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa I.
2ª Edição. Brasília/DF, Federação Espírita Brasileira, 2018.
MOURA, Marta Antunes de
Oliveira de (Organizadora). Mediunidade: estudo e prática. Programa II.
2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.
ROCHA, Cecília (Organizadora).
Estudo Sistematizado da Doutrina Espírita: programa complementar. Tomo
Único. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2018.

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